domingo, 19 de outubro de 2008

Um minuto de silêncio pra quem mora mal







E foi quando todas se encontraram...



A sensação é de que nos conhecemos há anos e a motivação que nos une faz o vínculo bem especial. Uma delas me entende tanto, que eu só preciso olhar e, pronto, decifra tudo, rápida e precisamente; até parece que carrega com ela um manual de mim (juro, me conhece muito). A outra é a parceria que está sempre disposta a participar de qualquer moda que eu invente (e não são poucas!), desde uma “esticadinha” à Paris até fotografias no porta-malas do carro, sem se mixar para qualquer odor realçado de naftalina. Tem também aquela “pequerrucha” para a qual até cheguei a posar de “Cupida” (só emoção!), mas que por um PEQUENO problema de ordem circunstancial, o pseudo-relacionamento acabou morrendo na casca. E tem também a mais recém-chegada ao grupo que até bem pouquinho tempo atrás eu – vergonhosamente – ainda confundia o rostinho dela com o da menina que, com certeza, foi feita na mesma forma.

Não tem muito tempo em termos de “dias contados no calendário”, mas posso garantir que é daquelas amizades que se fazem a partir da convergência à felicidade recíproca. Daquelas que se cria e se consolida não porque as pessoas se juntaram desde o jardim da infância e os anos foram assim deixando, mas simplesmente porque QUEREM, PODEM e SE COMPROMETEM A estar juntas, dividir felicidades e construir histórias de vida muito bem vivida.

Nem sei direito quando, me perco nas datas precisas, minha memória nada criteriosa, que só registra o que me convém (ou o que me fez passar muita vergonha!), se concentra apenas em guardar os eventos em si (o que já é uma grande coisa), mas o certo é que conheci a Mari e a Carol na UFRGS. Uma em cada semestre, uma em cada sala, cada uma no seu Curso, mas ambas muito especiais, muito queridas por mim, igualmente meigas e sempre muito “MINHAS”! Uma sempre soube da outra, afinal, não tinha como uma participar da minha vida sem que soubesse da presença sempre marcante da outra e vice-versa. Eu já não era mais “Profe” da Mari quando ela dava umas incertas na porta da sala de aula onde eu, então, lecionava Direito das Coisas justamente para a turma da Carol. A Mari jurava que ia matar saudades da “Profe” querida, mas eu até hoje tenho minhas dúvidas. Um quê de intuição (dessas que não falham) sempre me fez crer que ela aparecia lá, na verdade, para sutilmente fazer uma bela delimitação territorial. Ah, mas esta vida é, mesmo, mesmo, cheinha de coincidências.

A Lorena veio bem depois e é uma daquelas verdadeiras bênçãos que fazem valer a pena um dia ter trabalho no Império. Se eu bem me lembro, foi naquele ambiente propício ao bate-papo, composto por impressora que não imprime sem antes irritar profundamente o usuário, estrategicamente posicionada ao lado de uma térmica de café forte e de outra com água quente para quem tivesse tempo de preparar um chá, que me aproximei da Lô. Naquele raro momento de descontração (sim, ir até a impressora – ainda que seja apenas para dar um soco nela – ou conseguir tempo pra servir uma xícara de café é, sim, momento de PURA descontração!) eu contei para ela que, se um dia eu procriasse e desta eventual insanidade eu tivesse uma filha menina, ela se chamaria Lorena. Pronto. Foi o que bastou para o “bichinho” se afeiçoar e não paramos mais de ser Amigas.

Como o Império não cansa de me dar bons motivos para amar ter trabalhado lá, conheci a Márcia. Meu Deus, como é que pode ser tão idêntica à Cibele?! É impressionante!!! Parece até uma daquelas histórias (novelas mexicana, claro!) de irmãs gêmeas que nascem de mãe muito pobre e são separadas para que possam ser criadas dignamente em outras famílias! Enquanto uma delas trabalhava na biblioteca, tudo certo, eu conseguia distingui-las na boa, mas sem demora (sim, tudo acontece singularmente rápido naquele escritório) ambas passaram a trabalhar no Piscinão. Danou-se. Foi-se embora o juízo de distinção. Realmente, minha memória nada criteriosa demorou horrores para apontar quem era quem. Mais tarde, por uma contente coincidência que só o Universo pode proporcionar (não sem um empurrãozinho oriundo da patetice de um punhado de peões, é claro), acabei participando daquele momento que, certamente, foi o mais emocionante da vida dela no mundo Acadêmico. Que orgulho, Amiga!

Eis, então, que num entardecer de um dia de férias de inverno, chuvoso e frio como só Porto Alegre pode proporcionar, entre um café e outro no sempre decadente Praia de Belas, a Mari sugeriu de fazermos uma viagem para espantar o tédio e dar uma “adrenalizada” na vida. As negociações e tratativas foram avançando e a Carol imediatamente foi inserida nos planos, afinal, para mim seria impossível viver um momento felicíssimo como esse estando dissociada dela! Me lembro direitinho da Mariana falando assim: “Isso mesmo, chama a Carol para vir conosco nesta viagem, afinal de contas, se ela é tãããão e há taaaanto tempo tua Amiga, só pode ser uma guria muito querida”. Bingo, Mari!!! Good Girl!!! Várias idéias, destinos, pacotes, preços e conjecturas passaram pelas nossas cabeças até que chegássemos à opção “Reveillon no Rio de Janeiro!” O Projeto “Reveillon no Rio entre Amigas” ganhou a presença da Lô quando ela foi se queixar para a Carol que não tinha nenhuma perspectiva emocionante para o fim de ano e que, pelas prospecções, os festejos tradicionais não passariam duma sem-gracice violenta. Quanto à Marcinha, me parece que ela passou a integrar este grupo de Mulheres Maravilhosas ao – espertamente – trocar uma festa de formatura por aquilo que vai se tornar o mais lindo Reveillon da vida!

Junta cinco mulheres seguras, com muita disposição ao entretenimento, uma vontade quase obsessiva de aproveitar (responsavelmente!) a vida até as últimas conseqüências, um pouco de grana, uma lotação potencializada de bom humor, vocação incondicional à felicidade pra ver no que vai dar. E com ímpar animação, num estalar de dedos, naquela velocidade e agilidade só equiparáveis aos acontecimentos do Império, que pesquisamos apartamentos, investigamos as mais econômicas passagens aéreas, fizemos as reservas e fechamos os contratos. O Reveillon no Rio é Nosso!!!

Trabalhando muuuuito no projeto "Sem Canga e Bíquini de Lacinho"

Terminada a tradicional manhã extenuante (mas sempre gratificante) de uma aula de Estágio V, me encaminhei à troca do elegante terninho por uma roupa um pouco menos chique, que pudesse me proporcionar um digno e merecido conforto. O espelho enorme como toda mulher merece ter, daqueles que não deixa escapar detalhe algum, denunciou mais uma vez aquele corpo de causar inveja a muito Buda gordinho.

Inteligentemente, conclui que a mera ingestão de nutrientes passáveis por um canudinho não seria suficiente para fazer a calça jeans 38 escorregar quadril abaixo, afinal, dezembro já está aí. Ao mesmo tempo, a idéia adentrar em uma academia e correr feito um ratinho de laboratório naquelas esteiras horrorosas, cercada pessoas nojentamente saudáveis, me causava calafrios. Decidi que ia diminuir a espessura do canudinho e desenvolver um verdadeiro prazer por barrinha de cereal.

Suspirei enquanto pensava qual seria o motivo pelo qual eu não sou uma mulher contemplada com a dádiva divina inerente às “magras de ruim”. Lamentei profundamente o fato de inexistir um dispositivo através do qual eu pudesse avisar ao meu organismo que armazenar gordura para épocas de estiagem é coisa do tempo das cavernas e que em plena Era do telefone e microondas uma queda de energia corporal se resolve em questão de segundos. Me resignei com a incapacidade de mudar tão drasticamente a natureza e fui tratar de preparar os exercícios de sucessões para a aula da noite, afinal de contas, “overweight” E desempregada deve ser ainda mais triste.

Ao procurar a clássica pantufa para compor o uniforme de trabalhar em casa, surpreendentemente, me deparei com um PAR DE TÊNIS. Ainda não descobri se este estranho calçado, tão deslocado em meio à Scarpins, Mules, Channels e Peepe-Toes, foi parar ali nas minhas coisas por força da mudança da Mana “recém-casada-saída-de-casa” ou se foi obra da Fada do Desporto, só sei que aquilo evidentemente era um SINAL. Eu sei – também – que o Universo conspira para a felicidade de todos, mas que só alguns sabem interpretar os sinais que Ele manda. De cara já entendi: isso é um aviso!!! Preciso queimar as calorias armazenadas pelo meu organismo tããão preocupado em fazer abundantes provisões de energia em forma de tecido adiposo e, assim, poder me manter cheia vigor no dia da “crise crônica de alimentos no planeta” que, por sinal, nunca chega. Na mesma hora travei uma luta contra todo o excesso de gostosura presente no meu corpo e decidi: “vou caminhar na Encol!”. A aula da noite pode esperar, até porque não é duas vezes que o Universo se manifesta com tanta veemência, não é mesmo?!

Um novo problema automaticamente surgiu a partir desta decisão de auxiliar a reforma do corpo-Buda: MEIAS. Da minha remota infância lembro alguém comentar que tênis sem meia causa bolhas, chulé nos pés ou as duas coisas juntas. É desoladora a sensação de necessitar um par de meias de algodão e simplesmente não tê-las. Estranho?! Não para uma pessoa que desde a última aula de educação física no Colégio Santa Maria desconhece a real utilidade de um par de tênis. Ainda se a Mana não tivesse tido a brilhante idéia de casar, eu poderia até assaltar um guarda-roupa, mas nem com isso poderia contar. Obstinada que estava em fazer alguma coisa para colaborar com o Universo, prontamente achei uma solução: é com uma das 500 meias 3/4 de nylon, fio 15 que irei me atracar feito atleta na Encol! Escolhi uma meia nova, da Loba, luxuosíssima, é claro, porque ninguém merece a degradação de suar em plena praça pública somada à uma meia “meia-boca”.

Chegando na Encol, coloquei o celular pra despertar dali 30 minutos, tempo suficiente para que o meu organismo pra lá de sedentário se desse conta que eu não estava para brincadeira. Comecei a andar no sentido horário e sem demora o primeiro impacto. Na direção contrária corria desatinadamente uma moça magérrima, daquelas de dar orgulho a qualquer fita métrica, vestindo uma legging e um top minúsculo, no melhor estilo “Paty-PUC”. Certamente eu precisaria nascer de novo para atingir a metade daquele corpo. Esmoreci e pensei em voltar para casa. Era muita esnobação de saúde e perfeita forma física para uma desmotivada gordinha tentando se tornar apresentável. Além do mais, os exercícios de direito das sucessões também me consumiriam energia para serem elaborados.

Antes de largar de mão o incipiente exercício físico, focada no Reveillon dos sonhos, insisti mais um pouquinho e resolvi caminhar no mesmo sentido daquela guria magrinha, pois assim eu não precisaria me bater de frente com aquele protótipo de Miss a cada meia volta. Bendita a hora. Já diz o ditado: “nada é tão ruim que não possa piorar”. Logo depois de eu ter trocado a caminhada para o sentido anti-horário, apareceu o estímulo que eu precisava. Avistei de longe (mas bem de longe mesmo, porque a imagem era realmente ENORME) um carinho de bebês com compartimento para DUAS crianças. Logo atrás, conduzindo o transportador de nenês (coisa que para muitas mulheres deve ser objeto de orgulho, acredito eu), vinha uma deformação que julgo ser a mãe recém parturiente daqueles rechonchudos rostinhos gêmeos! Ao ver aquela imensa mulher, cuja coxa devia corresponder à metade da circunferência da parte do meu corpo onde mais se estocou gordura, pensei: “nossa, eu poderia estar beeeem pior”. Foi como um choque elétrico. Desatei a caminhar feito uma louca, como se aquela forma física de barril fosse contagiosa.

Ao término dos 30 minutos, os quais, felizmente, passaram super rápido, eu me sentia uma vitoriosa e disposta a repetir a dose. Sobrevivi. Não posso dizer que foi bom, afinal, sempre detestarei qualquer exercício físico que demande uma quantidade de suor que extrapole o razoável (exceto, por óbvio, a prática daquela atividade física – quase fisiológica – sem a qual se extinguiria a espécie humana da Terra), mas tudo bem, vale a pena para não fazer feio nas areias do Leblon.

Da caminhada de hoje constatei algumas coisas. Ninguém morre por caminhar; maquiagem, embora importada, simplesmente derrete quando se depara com o suor violento que escorre pela testa; meia da Loba dá conta do recado não apenas numa reunião, audiência e salas de aula, mas também dentro dum estranho calçado chamado “tênis”.

A julgar pelas dores latentes que sinto no corpo inteiro, inclusive nos cílios e unhas, acredito piamente que a maratona de caminhadas iniciadas hoje, se não adiantarem para me transforma magicamente numa sereia, pelo menos contribuirão para que as minhas Amigas não sejam multadas pelo IBAMA por manterem em cativeiro uma espécie rara de baleia branca! A esta altura do meu esgotamento físico, nem precisa que o jeans 38 escorregue quadril abaixo. Já me dou por satisfeita se ele simplesmente fechar sem precisar estar deitada, roxa, com a toda a barriga murcha encostando nas costelas.

Palmito...







Um dia desses ouvi a Mari comentando, com aquele ar de "desespero" que lhe é peculiar quando se trata de "técnicas para ficar ainda mais bonita", que ela PRE-CI-SA-VA URGENTEMENTE perder a sua cor de palmito. Suspirei internamente, desolada, e pensei comigo mesma: "No meu caso, se eu conseguir me livrar do meu FORMATO de palmito, já estarei bem satisfeita... "

Dia de organizar o roteiro da viagem...




(...)

Toda hora enquanto é tempo


Vivo aqui este momento


(...)


Hoje aqui amanhã nao se sabe


Vivo agora antes que o dia acabe


Este instante nunca é tarde


Mal comecou eu ja estou com saudade


(...)